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Halley

(De acordo com o cronista Antônio Prata, o cometa Halley parece a ponta de um cotonete) Passava das 9 da noite quando eu peguei uma carona com o Adams rumo a Cidade Nova, depois de cinco cansativas horas de trabalho, escrevendo do término de casamento da Déborah Secco à Guerra na Ucrânia. A viagem não era longa, tinha cerca de 30 minutos, mas – Não sei se você convive com jornalistas – não paramos de falar um minuto. Falamos da Disney, da minha banda preferida, de chifres e traições, até chegar no cometa Halley. Pausa. Este cometa, que aparece a cada 70 anos, nunca foi visto nem por mim e nem por ele, levando em consideração que nascemos nos anos 90. Claro que eu já pesquisei sobre o famoso cometa, perguntei à minha avó e à mina mãe, à minha tia e ao meu pai, e a resposta era sempre a mesma: não lembro. É um pouco fácil as pessoas serem traídas pela própria memória. Esquecer onde deixou uma chave, onde estava no 7x1 ou quando você comemora aniversário de namoro, e está tudo bem...
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A distância

Aquele abraço de longe Não foi de longe o pior Aquele abraço colado, Meio apertado Foi de perto o melhor E quando a noite findou Que o mundo ruiu E a festa acabou Você se encontrou em si e sorriu   Depois que a chuva passou E o sol abriu Fez um dia preguiçoso E você viu   Veio a saudade tomar conta No meio daqueles braços solitários Que fez o dia inteiro Frio   Vou tentar escrever carta Talvez te ligue fim da tarde Não sei se você sabe Mas tem um tempo que você não parte   Depois que você saiu No meio do abraço apertado Senti seu cheiro suado Colando no meu pedaço Que nunca desistiu   Mesmo que o mundo acabe E as horas passem Vai ter sempre seu encaixe No meu país.   Nota da autora:  Este poema foi escrito em 2020 e deu nome ao meu segundo livro (A distância), mas infelizmente foi cortado na edição. Amo demais e acho injusto ficar sem ser lido por ninguém. O livro está disponível par...

Precisamos falar sobre Kim Mingyu

É um esquema de pirâmide: começa com você ouvindo uma música divertida do BTS e quando vê tá chorando de saudade por 7 homens, que você nunca viu na vida, passando dois anos no exército.  Foi assim que começou em 2021 e percebi que em 2024 continua a mesma coisa. Exceto que eles se multiplicaram. São muitos grupos, muitos "idols", muitos cabelos coloridos, 1ª, 2ª 3ª, 4ª e 5ª geração.  Por aqui, ouvimos mais os grupos da 3° geração e foi aí que surgiu meu atual problema, um problema que tem nome, altura e beleza, muita beleza.  Nome: Kim Mingyu . Idade: 27 anos. Atura: 1,87m. Grupo: Seventeen.          Sonhei com Mingyu na madrugada de sábado. Uma pele cor de mel, os cabelos pretos e os olhos castanhos. Braços torneados, parece que feitos a mão, o sorriso mais bonito do mundo. Paul McCartney também estava no meu sonho, mas vamos focar no Mingyu.  Era uma casa pequena,  baixa, onde ocorria uma festa com os amigos. Entre bebidas e música do...

Meia lua, lua cheia

Dona Cidália acordava todo dia as 7h da manhã, fazia o café de todo mundo e depois ficava esperando a “moça que trabalhava lá em casa” chegar para poder contar como tinha sido a novela e descobrir toda a vida da moça. Passavam horas conversando, as vezes me acordavam de tanto ti-ti-ti na cozinha. Dona Cidália gostava de Elis Regina, Tim Maia e Charlie Chaplin. Gostava também de Carlos Gardel e vez ou outra cantava um bolero pela casa. Toda quarta-feira assistia futebol. Deus o livre perder o futebol de quarta-feira! O atacante do time que ela estava torcendo contra entrava com a bola na grande área e ela já gritava antes mesmo da finalização: “pra fora, pra fora, pra fora!” E como se estivessem a ouvindo, a bola obedecia e ia pra fora. “Dá má sorte gritar gol antes da bola entrar”, dizia me olhando e mexendo os polegares em círculos. As vezes torcia para o Botafogo, mas sempre torcia para o Vasco. Dona Cidália tinha mania de comer castanha-do-pará quebrada atrás da porta da c...

Correio elegante II

D., Escrevo depois de ler tuas palavras sobre terras estrangeiras e amor e te digo, as terras que ando explorando dentro de mim são lindas. E floridas. Desde a última vez que nos escrevemos, eu andava meio duvidosa de que seria possível ou não encontrar amos dentro de mim e você me lembrou que é bem possível sim. Li teu texto e automaticamente lembrei de “Dê um rolê” dos Novos Baianos em que eles dizem: “Eu não tenho nada e antes de você ser, eu sou (...) Eu sou amor da cabeça aos pés” E Sou. Sou muito amor, sou todo amor do mundo dentro de mim. Amor não precisa de destinatário, porque amor é o próprio remetente. Esses dias andei meio que me amando. Lembro de um email que você me escreveu tem uns 4 anos, em que você dizia que botou o vestido mais bonito, pintou os lábios de vermelho e saiu em direção ao céu de Budapeste, livre e leve como sempre foi. Fiz isso por essas bandas amazônicas também: Chamei meu melhor amigo e fomos a um karaokê. Bebi, cantei, dancei, pulei. Che...

Correio Elegante

Querida L., Ler tuas palavras me fez lembrar que esses dias tenho pensando muito em amor e em seus diversos significados. Sempre achei que amor fosse algo além de, sabe? Além de nós, algo ou alguém, que no discurso do dia a dia fosse sempre objeto, complementando o sujeito que somos. Ocorreu-me então que sempre estive errada. E, correndo o risco de soar (ainda mais) terrivelmente clichê, te digo que amor é, e sempre foi, irrevogavelmente sujeito de qualquer oração que nos pertença. Amor somos nós. Amor não vem e não se vai, porque somos sujeito, verbo, objeto, a gramática inteira, desta coisa por tantas vezes sem nome que volta e meia nos toma por completo. Eu sou amor. Tu és amor. E amor que vem de amor, amor permanece. Te sentes perdida e sem rumo, como se o amor tivesse partido de ti e te deixado partida e sozinha, a mercê. Faz sentido. Porque te digo que amor é se perder num país estrangeiro no qual não falas a língua. Cada esquina é um lugar novo. Assustadoramente nov...

Outubrou!

Duas da Manhã de uma segunda-feira pós eleições. O Brasil desmoronando na cabeça das pessoas. Inúmeras incertezas, preocupações e medo do que nos espera no futuro. Só tem uma pessoa que aparentemente não está nem aí para nada disso: Meu vizinho que está ouvindo “Palavras” do Marcelo Wall, sentado no pátio da sua casa bebendo sua cerveja e sentindo um cheiro de maniçoba exalando de toda a rua e me lembrando que: É círio, Belém! Observo meu vizinho nessa madrugada sentado na cadeira branca de plástico, uma lata de Cerpa na mão e o radinho ecoando a batida do brega que entra pela meia janela aberta da minha sala. Na porta de entrada da casa dele, dá para ver um cartaz do círio colado pronto para saudar quem chegar, na porta da minha casa também tem e me dou conta que todas as casas da minha rua estão com o cartaz da santinha, seja na porta ou na parede, mas sem exceção, ela está lá. Um dia, já faz tempo, estava indo para o centro da cidade em um ônibus parado num engarrafamento ...