Querida L.,
Ler tuas palavras me fez lembrar que esses dias tenho pensando muito em amor e em seus diversos significados.
Sempre achei que amor fosse algo além de, sabe? Além de nós, algo ou alguém, que no discurso do dia a dia fosse sempre objeto, complementando o sujeito que somos.
Ocorreu-me então que sempre estive errada. E, correndo o risco de soar (ainda mais) terrivelmente clichê, te digo que amor é, e sempre foi, irrevogavelmente sujeito de qualquer oração que nos pertença.
Amor somos nós. Amor não vem e não se vai, porque somos sujeito, verbo, objeto, a gramática inteira, desta coisa por tantas vezes sem nome que volta e meia nos toma por completo. Eu sou amor. Tu és amor. E amor que vem de amor, amor permanece.
Te sentes perdida e sem rumo, como se o amor tivesse partido de ti e te deixado partida e sozinha, a mercê. Faz sentido. Porque te digo que amor é se perder num país estrangeiro no qual não falas a língua.
Cada esquina é um lugar novo. Assustadoramente novo. Incrivelmente novo. Lindo. E novo. Cada esquina, a surpresa. Um novo olhar, aqui e a ali aprender uma nova palavra, achar uma cafeteria pequena com um doce que nunca provastes, se decepcionar com o suco de outra esquina, achar aquele outro café amargo. Ser empurrada por um emaranhado de pessoas apressadas que tanto quanto tu, não fazem ideia de onde vão nem porque. Achar uma que por um breve espaço de tempo, acha que vai pro mesmo lugar e te acompanha e que algo longo do caminho se perde de ti e te permite conhecer outras pessoas. Tropeçar aqui e ali ver mãos se estenderem e te ajudarem. Ganhar sorrisos e guardar uns tantos. Chorar sentada numa calçada ou rir descompensada em outra. Deixar pra trás esquinas escuras. Ter medo de dobrar em outra, sentir o coração palpitar e ter uma grata surpresa. Ou não. Porque a vida é uma cidade estrangeira. Como todo dia que começa novo, de novo, mais uma vez e sempre, sempre algo a se descobrir para então partir pra outro lugar desconhecido com uma única certeza.
A certeza que onde quer que dobres, perdida ou encontrada, sempre terás contigo quem és, e isso é tudo e se não, amor.
Então, minha amada L, esse amor lindo e doce que és não precisa de destinatário. Em terra ou em além mar, sempre sobre o mesmo céu, o amor conspira. Abre os olhos todos as manhãs, respira, e sempre acha um novo jeito, não de pertencer, mas apenas de ser. Porque como te disse, e te repito, uma vez e sempre que necessário, eu sou amor. Tu és amor. E amar é a única maneira de sermos.
Sinta-se amada e livre. Ame sem destino. Deixe a angústia de lado e respire sem o peso de ser. Porque amor és, hoje e sempre.
Do teu pedacinho de amor,
D.
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