Passava
das 9 da noite quando eu peguei uma carona com o Adams rumo a Cidade Nova,
depois de cinco cansativas horas de trabalho, escrevendo do término de
casamento da Déborah Secco à Guerra na Ucrânia.
A
viagem não era longa, tinha cerca de 30 minutos, mas – Não sei se você convive
com jornalistas – não paramos de falar um minuto. Falamos da Disney, da minha
banda preferida, de chifres e traições, até chegar no cometa Halley.
Pausa.
Este
cometa, que aparece a cada 70 anos, nunca foi visto nem por mim e nem por ele,
levando em consideração que nascemos nos anos 90. Claro que eu já pesquisei
sobre o famoso cometa, perguntei à minha avó e à mina mãe, à minha tia e ao meu
pai, e a resposta era sempre a mesma: não lembro.
É
um pouco fácil as pessoas serem traídas pela própria memória. Esquecer onde
deixou uma chave, onde estava no 7x1 ou quando você comemora aniversário de
namoro, e está tudo bem. A memória geralmente vem acompanhada de um fato
importante para você lembrar daquele dia pra sempre, mesmo que seja uma coisa
simples, tipo provar um macaron pela primeira vez. Esquecer nem sempre
significa que não foi marcante, sua memória só achou irrelevante guardar aquilo
e seguiu em frente. Normal.
Mas,
como esquece um cometa que só aparece a cada 70 anos?
Adams
continuou me explicando, com os cachos caindo nos olhos, que a maior meta dele
era chegar vivo até a próxima aparição do Halley e eu achei uma meta excelente.
Visto que o cometa pode passar daqui há 35 anos, é um bom tempo de vida
garantido. Muito melhor que a minha meta, por exemplo, que é ir num show do BTS
em 2026, que no caso serão só 2 anos.
“Tá,
mas por que o cometa Halley?”, eu perguntei. “Ah, porque parece ser algo
especial. Só aparece com uma longa distância de tempo, tem todo um
significado”, ele disse.
E
aí que está a questão: como fazer valer a pena essa meta? Vivendo cada dia como
se fosse o último? Escrevendo sobre Big Brother Brasil todo o dia? Fazendo amor
sem camisinha? E quando o cometa chegar, será que essa meta fez minha vida
valer a pena? E se eu não conseguir ingresso para o show, meus 2 últimos anos
foram em vão? E se o cometa passar tão rápido, já que é um cometa, e eu não
conseguir ver nem a cauda?
Eu
nem precisei questionar tudo isso, ele mesmo completou: “Difícil mesmo vai ser
se no dia tiver tudo nublado ou ele não for nada demais. Aí vai ser
frustrante”.
É,
tem isso. Mas pelo menos foram 35 anos a mais de expectativa de vida e
provavelmente serão mais 35 para superar a merda que foi. Nada demais esse
cometa. Nem sempre a precisa lembrar de tudo com grandes expectativas, mas nada
como fazer 35 anos valerem a pena. Normal.
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