As pessoas estão sempre buscando algo em alguém. Ficamos anos da nossa vida procurando aqui e ali, entre rabos de saias, par de calças, pés de chinelo, alguma coisa que nos complete, que nos motive, que nos dê esperança de viver. Mas muitas vezes não notamos que tudo o que a gente precisa está dentro da nossa casa. Me dei conta de que quem eu mais preciso nesse mundo é da minha mãe e nem adianta eu olhar mais, minha mãe é primeira e a última a estar comigo. Me dei conta disso no último dia 1°.
Eu e minha mãe já passamos por uns bocados e trocados. Primeiro que para eu nascer ela teve que fazer tratamento porque não podia engravidar. Fui mais que planejada, fui sonhada. Tive meu nome escolhido antes mesmo de nascer, num quarto de hotel em Copacabana. Nasci. Fiz um ano e peguei pneumonia. Fiquei na UTI, fiz cateterismo, tenho uma cicatriz na axila – que ora eu gosto por me lembrar que eu já venci essa bandida que é a morte, ora eu odeio por ser horrível de depilar ou botar uma regata no calor de Belém – Uma marca dessa época. Em cada vacina, crise de asma e ansiedade, minha mãe que estava lá.
Voltando
ao momento eureca em que me referia, foi na volta para o hotel que estávamos em
Manaus semana passada. Fomos para um karaokê, porque ninguém aguentava mais
ficar assistindo novela Turca na Band. Eu precisava cantar, gritar, extravasar
e agradecer por ter uma mãe dessas na minha vida. Que sorte danada a minha, sou
bem consciente disso. No karaokê cantamos nossa música: “Girls just wanna have
fun” da Cindy Lauper. Ela, mesmo sem saber uma palavra de inglês foi cantar
comigo. Dançamos, rimos, voltamos para o hotel e ela desabou na cama. Daí
comecei a pensar nas aventuras que já vivemos juntas em nossas viagens.
A primeira de todas foi nos meus 15 anos, para o Rio de Janeiro. Ela queria porque queria ir num baile funk na Rocinha, fui imitar o Michael Jackson, torci o pé. Terminamos, nós duas mais o garçom do hotel, num forró da terceira idade no clube israelense de Copacabana (Essa história é incrível, um dia vou escrever uma crônica exclusiva para ela). No dia seguinte, ela queria ver o Barra shopping. Pegamos uma van na Barata Ribeiro e cruzamos o Rio. Eu ia rezando o trajeto inteiro – Meu Deus, como a Barra da Tijuca é longe! – Chegamos vivas.
Fomos ao Maranhão e viramos o ano dentro de uno com outras 10 pessoas, num engarrafamento quilométrico e com chuva. Não sentia mais minhas pernas, mas estava lá, segura, com minha mãe. Ir ao karaokê em Manaus, só nós duas, depois de eu terminar um namoro, foi o de menos. O demais é que ela é minha mãe. Terra. 100 por cento. Sol em Virgem, Ascendente em Capricórnio e Lua em Touro. Tem mania de limpeza, perfeccionismo e organização, coração de gelo as vezes e quando fica ansiosa desconta na comida. É Terra, com Terra e Terra. Minha Terra, meu porto seguro, meu chão.
Nasceu 7 de Setembro, dia da Independência e se teve uma coisa que ela me ensinou foi a ser independente. Raspou a cabeça 3 vezes: Duas porque quis e outra quando perdeu uma aposta num bar depois da final da copa do mundo de 98. Se me deixarem escrever e falar sobre minha mãe, fico até de manhã, mas ela já me chamou pela quinta vez para ir dormir porque tem que acordar cedo para não perder o café e porque eu vou ficar com olheira. Desculpa, mãe, já estou indo, mas não me retiro sem antes dizer: Feliz aniversário (um pouco adiantado, já que a crônica vai ser publicada na terça e seu aniversário vai cair numa sexta, feriado). Já agradeci a Deus pela existência de Michael Jackson e Gutenberg, agora agradeço, se Deus estiver lendo, pela minha mãe.
Eureca. Não me falta nada.
(Crônica publicada no portal Roraima em Foco no dia 04/09/2018)
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