Estranho pensar que anos atrás éramos todos poeira
cósmica vagando pelo extenso universo. De acordo com a ciência, começamos de
uma explosão. De acordo com Deus, começamos dele mesmo e da costela de alguém.
A verdade é que ninguém concorda com nada. Se viemos pra cá, se vamos pra lá,
tudo se torna irrelevante se olharmos de dentro pra fora nessa via Láctea
inacabada de sentimentos dentro da gente.
É como uma semente plantada no semiárido. Começa ali,
pequena, e aí a gente rega. Rega, joga adubo, falta a água da chuva, falta luz
do sol, mas ela tá lá, lutando pela sua vida e sua fotossíntese. Tem horas que
faz frio, que parece que a gente sente todos os ossos do corpo tremendo por
dentro. Parece que somos feitos fios de eletricidade ligados a energia pública
e dá vontade de arrancar os fios da tomada e desligar.
Nossos músculos, nossa mente, articulações e todas as
parte do corpo desobedecem, ou melhor, obedecem a si mesmo. Independe do
querer, viramos o sentir. Sentimos o gosto doce da solidão e do improvável
correndo pelos nossos dedos e então, tudo perde o sentido. O sol que nasce no
oriente não ilumina mais aqui dentro. A Lua vira um satélite orbitando no
próprio eixo e nós? O que somos? Alguém sabe dizer de onde veio a dor? Se
Pandora realmente abriu uma caixa e liberou todos os pecados em cima da
humanidade, que mal fez Pandora para carregar essa culpa? Que mal nós fizemos
para nos aguentarmos?
Um sorriso e aí a certeza: Somos quem escolhemos ser.
Somos do meio, do início e do fim. E o fim, esse que nos faz andar na corda
bamba, que faz pesar os olhos, que emudece qualquer um é o que nos deixa de pé.
É o que nos faz querer aproveitar a linha que nos separa da nossa data de
nascimento a nossa data de morte. Vida. Vida pulsante, vida breve. Cabelos molhados,
unhas roídas e uma solidão incompreensível.
A noite, na cama, com os pés para fora do lençol
sentimos a brisa gelada como se fosse um chamado. Sabe Deus pra que.
Levantamos, abrimos os olhos, estamos vivos, as vezes sem querer estar. E a
gente sai do corpo, se olha de cima e se vê: Sozinho. Quando minha mãe morrer?
Quando meu pai morrer? Quando eu morrer? Vim pra cá e saio daqui, sozinha. Aproximo
do mar para tentar distrair. Ouço uma música dos Beatles que fale de amor,
danço uma do Michel Jackson pra agitar, mas quem disse que eu quero?
As mãos tremem. O canto da boca repuxa na tentativa de
alcançar a felicidade. Levantamos. Uma, duas, três vezes. Caímos. E aí
levantamos de novo porque é isso: Estamos vivendo. Estamos existindo entre
prótons e elétrons. Somos luz. Por mais que as pernas tremam, por mais que os
joelhos se dobrem, nos levantamos. Olhamos adiante, vemos uma linha fina no horizonte
nos chamando para ser quem somos, estar onde estamos.
Não sabemos de onde víemos, nem para onde vamos. Nós
somos uma escolha, um destino do mundo. 365 dias. Uma galáxia dentro de cada
um. A Ansiedade me prende nela, como grades de uma cela suja que sou eu mesmas,
que são os fios do meu corpo que não deixam ser desligados. Noite após noite
dentro de mim, segurando o nó na garganta, o fiapo de espinho no pé. Grita,
grita que alguém te ouve. Grita, que tu te ouve. Tu ouves o mundo, tu ouves
quem quer ouvir. Seja você. Seja a água do pote da flor que você regou no mais
quente verão da vida.
Olhe adiante, ajuste seu sentido na direção certa. Bússolas
não são capazes de te guiar sem que você queira. E quando a dor passar, quando
a crise de ansiedade cessar, sai da tua casa e vai ver o sol, porque é isso que
nós somos e sempre seremos: Poeira
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