Fim
de Junho visitei São Paulo pela primeira vez, mas minha conexão com a cidade
vem desde os meus 8 anos. Mesmo só conhecendo sampa com 23 anos, parece que a
cidade sempre esteve comigo graças a duas mulheres que nunca chegaram a se
conhecer, mas que me criaram culturalmente: Minha mãe e Cássia Eller.
Voltemos
para copa de 2002, quando minha mãe saiu de Belém para acompanhar meu tio em
uma cirurgia na coluna em São Paulo. Lembro de Dona Márcia sair de casa com um
casaco preto, cachecol, bota preta e cabelo curto loiro entrando no avião e me
dando tchau. Fiquei alguns dias com minha tia até ela retornar e segui minha
vida escolar de segunda série normalmente.
Alguns
dias passados, estava no banho e ouvi uma voz familiar entrando por entre as
brechas do box: Minha mãe. Quando você tem 8 anos, espera ter uma imagem
da sua mãe agindo como mãe. Fazendo seu mingau matinal, seu almoço, levando
você na escola, lhe ajudando no dever de casa, mas minha mãe nunca foi essa mãe. Você deixa um adolescente sozinho em um filme americano e ele faz festa
escondido dos pais, sai com os amigos, pinta o cabelo de roxo e faz uma tatuagem
no cóccix, foi mais ou menos o que aconteceu quando deixaram minha mãe sozinha
em São Paulo.
Quando
abri o box para reencontrar minha mãe achando que ela ainda era a que arrumava
minha cama antes de dormir levei um susto: Calça preta de lantejoulas, blusa
preta de alcinha, tatuagem de fênix nas costas e careca, com a cabeça pintada
de verde cantando Malandragem de Cazuza gravada brilhantemente na voz de Cássia
que imediatamente virou minha cantora preferida. Quer dizer, uns dois minutos
depois de ter certeza que aquela pessoa na sala de casa ainda era minha mãe.
Felizmente era.
Quando
fui a São Paulo nessa copa de 2018, eu entendi o que aconteceu com minha mãe no
penta: São Paulo é para pessoas diferentes, é uma cidade diferente. Meio Nova
York, meio Londres. É para quem quer viver, para quem tem pressa, para quem quer
se jogar. Eu, como boa pessoa com ascendente em Sagitário, largo o que tiver
fazendo para conhecer lugares ainda desconhecidos. E graças a Deus e santa
Cássia Eller, encontrei um namorado assim. Seguimos por sampa e a cada esquina
e rua que eu passava ficava imaginando minha mãe andando por ali. Agora entendo
o que os músicos chamam de “O poder da música”: Mesmo só visitando a fria São
Paulo com 23 anos, eu sempre fui conectada a ela, pela minha mãe e pelos CDs da
Cássia, inclusive o que eu comprei de lembrança na Galeria do Rock. Acho que isso é o
que Renato Russo chamaria de: “saudade que eu sinto de tudo que eu ainda não vi”.
Agora
eu vejo, Renato. Agora eu vejo.
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