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Futebol, Bolo de Fubá e Born this way


O futebol tem cara de ser inclusivo. Crianças, jovens e adultos. Negros, Brancos e Asiáticos. Flamenguistas, Vascaínos e Corinthianos. Mas tem dois grupos que – Oh, meu grande rei Pelé ­– não se encaixam com tanta facilidade nesse quebra cabeça de inclusão que teoricamente é o futebol: São as mulheres e os LGBTQ+, especificamente os homens (aspas) “afeminados”.

Em 2018, o homem já chegou a Lua, já fez filme de romance entre uma mulher e um peixe, já tirou presidente eleito por maioria democrática do poder, mas não supera o fato de chamar de “bicha” os jogadores do time adversário ou de “viado” a torcida do São Paulo. Cês juram? 2018, gente!

Claro que isso se dá por aquele clássico ditado, completamente demodé, “Futebol é coisa de menino”. Mas ora vejam só, se é coisa de menino, como explicam a Marta ter sido eleita 5 vezes seguidas a melhor jogadora de futebol do mundo? Que graça teria para uma mulher ficar correndo atrás de uma bola? Que vá dançar balé no Bolshoi ou participar de um programa de culinária, eles diriam em 1950.

Eu fui criada por 3 mulheres: Minha mãe, minha madrinha e pela pessoa que mais entendia de futebol em toda minha família, entre 7 filhos homens e sabem-se lá quantos netos, minha avó. Minha avó me ensinou o que é impedimento, escanteio e tiro de meta. Em plena copa de 2014 (descanse em paz, 7x1), graças a minha avó que me repassou esses conhecimentos, eu consegui fazer amizade com desconhecidos e a escrever melhor sobre esporte. Me tornei, oficialmente, só na minha cabeça, uma jornalista esportiva.

Minha avó tinha 2 anos na primeira copa do mundo em 1930. Viu o Maracanaço na copa de 50 e me viu nascer no ano do Tetra, 1994, onde me vestiu de verde e amerelo. Me fez ser vascaína (a pesar de torcer para o botafogo) e remista, não perdia um jogo quarta à noite. Eu amo futebol e Deus me “Dibre” nascer numa família que não gostasse. Eu, mulher que fui acostumada por uma outra mulher a assistir, gostar e comentar sobre o esporte inventado pelos ingleses e aprimorado em Terras pentacampeãs tupiniquins.

Em 2017, a torcida do Paysandu recebeu um prêmio por se posicionar contra a homofobia no futebol e o que a torcida adversária fez? Um post parabenizando por serem uma torcida de “bichinhas”. E que mal há nisso, em ser homoafetivo? Saber usar os GIFS da Gretchen é fundamental para se viver na internet no século XXI. Uma pena que o futebol ainda não aprendeu a ser colorido.

Junho, mês de copa do mundo, de barraca do beijo e bolo de fubá é também mês do Orgulho LGBTQ+. E enquanto eu estou esperando ansiosamente o Neymar e Firmino trazerem o hexa para nós, muitos homoafetivos e mulheres ainda estão sofrendo discriminação e machismo no esporte. Tomamos de 7x1 e a cada vez que uma mulher é assediada em campo, durante o trabalho, ou tem a credibilidade de falar sobre futebol questionada e um torcedor do São Paulo é chamado de “Viado”, é mais um gol da Alemanha.

(Crônica postada no Blog "Hora do Intervalo") 

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