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Doce Daniella


Daniella apareceu num dos enroscos que a vida dá e a gente nem percebe. Cabelo na touca de lã a um oceano de distância de mim. Morava na Húngria, apesar de ser da Amazônia. Conhecia neve pela primeira vez e ouvia Los Hermanos, trocava algumas palavras no twitter e eu a observava de longe. É difícil entender porque as pessoas se tornam amigas, quando se vê, lá estamos contando sobre o churrasco de domingo para outra pessoa que conhecemos pelos ônibus.

No começo queria que ela ficasse na Húngria. Estava apaixonada pelo ex-namorado dela e ela sofria, ainda sem eu saber, o mesmo que eu. Achei, assim, sem querer achar, observei sem querer observar, tomei coragem de falar. Percebi que tínhamos muito em comum. Caio Fernando Abreu e Clarice Lispector nos aproximaram mais que seu Ex. Era 2014, ano de copa do mundo e eleições, ano do 7x1 também. Ano que eu aprendi que não vale sofrer por homem nenhum, nem brigar, nem se emburrar, nem descontar toda nossa raiva em alguém que não merece. Que bom que esse ano me trouxe a doce Daniella.

Conversamos, trocamos e-mails, twittes, músicas do Los Hermanos. Ela me apresentou Rubel e Phillip Long. Me apresentou também Belchior, disse que lembrava seu pai. Nos vimos pela primeira vez por Skype, ela disse que meu sorriso era largo, mas tenho certeza que não mais que o dela. Tem um sinal no canto da boca que dá um charme Marilyn Monroe, o corpo magro e uma tatuagem do Drummond na costela. Daniella se sente cinza, sente medo, sente que não está pronta pra coisas.

Ah Daniella, deixa que eu te diga: As coisas que não estão prontas pra nós. O novelo da vida se desenrosca nesses enroscos, como o que fez nos encontramos. Sobre aquela vez que compartilhamos o mesmo sentimento, sobre o diário do Renato Russo que me deste de presente de aniversário. No mais bagunçado dos dias, quando amanhecemos cinza. Deixa que a brisa brinque com seus cabelos, afinal de contas, não damos conta de nada mas suportamos tudo. Você já suportou tanto. Nunca esqueça de quem você é, nem tenha medo de olhar no espelho e ver sua alma refletida. Você continua sendo quem você é, por mais que no começo não se reconheça. Se olhar bem lá no fundo, você verá a moça de cabelos pretos e sorriso largo que encontrei na Hungria e “é de Deus tudo aquilo que não se pode ver”.

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